Na Batalha Contra o Coronavírus, Faltam Líderes À Humanidade

Os escritores sempre estiveram presentes na sociedade. Pode ter certeza que mesmo que você não tenha o hábito de ler, existe ao menos um livro que marcou a sua vida, logo, tem ao menos um escritor que lhe marcou.
Nos momentos mais importantes da sociedade, os escritores sempre se fazem presente, seja escrevendo uma pequena coluna de jornal, um post nas redes sociais ou até mesmo escrevendo um livro, o importante é saber que nos momentos mais complicados que a humanidade enfrentar, sempre existira um escritor para mostrar a luz no fim do túnel ou simplesmente fará você refletir enquanto alguém tenta acender a luz.




Yuval Noah Harari, um dos principais escritores da atualidade. Professor de História, nascido em Israel, detêm ao menos três livros na lista de best-seller internacionais: Sapiens: Uma Breve História da Humanidade, Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã; e 21 Lições Para o Século 21. Apesar de ser considerado um escritor polêmico, Yuval Harari é capaz de fazer pessoas refletirem, e essas reflexões são importantes para o ser humano compreender o ser humano.

A FALTA DE LÍDERES


Quando se menciona que faltam líderes mundiais, algumas pessoas podem ter em mente que essa afirmação é errada, pois, sempre vemos líderes de suas nações todos os dias na TV, como é o caso do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump; ou o Presidente da França, Emmanuel Macron; ou até mesmo a Chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o Primeiro-Ministro do Reino Unido, Boris Johnson; ou o Presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro. Entretanto, eles possuem duas coisas em comum: A primeira é que ambos são Chefes de Estado, e a segunda é que nenhum possui Liderança, nem mesmo o Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) Tedros Adhanom, possui essa Liderança.
Yuval Noah Harari, nos mostra que a Liderança é algo muito além de aparecer na mídia e ter um poder de mando e comando em sua nação, mas sim, se mostrar como um exemplo a ser seguido, principalmente em momentos em que a humanidade passa a enfrentar problemas sérios que a desestruture, sendo que nesse momento os Líderes devem analisar a situação, juntar os cacos e mostrar a direção que o mundo deve seguir para que o vaso seja reconstruído.
Cada um dos “lideres” citados anteriormente e outros que não foram, fazem isso, porém, de seus jeitos, com suas convicções e filosofias, sendo que muitos desses jeitos são políticos, e situações excepcionais exigem atitudes excepcionais, e não atitudes políticas, como sempre são tomadas. Ademais, mesmos que essas atitudes ou soluções não sejam políticas e acabem por surtir efeito dentro de suas localidades, podem falhar quando aplicadas em um plano maior. Aqui surge outro problema dos ditos “líderes” mundiais: Pensar apenas em seu entorno e não no todo.
[…] Contudo, embora uma quarentena temporária seja essencial para deter epidemias, o isolamento prolongado conduzirá ao colapso econômico sem oferecer nenhuma proteção real contra doenças infecciosas. Muito pelo contrário. O verdadeiro antídoto para a epidemia não é a segregação, mas a cooperação. (Yuval Noah Harari, 2020).
O autor observa que deve-se buscar um equilíbrio dentro do enfrentamento ao Covid-19, sendo necessário cuidar do lado sanitário ao mesmo tempo em que a economia também deve ser cuidada, pois, se um colapso econômico ocorre, torna-se dificultoso o tratamento dos doentes, pois tratar custa dinheiro, assim, a saúde e a economia encontram-se intimamente ligadas.
Porém, discordo do autor quando o mesmo relaciona o isolamento e a quarentena com segregação (levando em consideração que o autor utilizou o termo no seu significado mais perverso), pois a quarentena, o isolamento social, não é uma segregação, mas sim, uma atitude necessária para o controle da epidemia. O fato das pessoas entenderem o significado do isolamento social, já pode ser considerado uma cooperação. Não podendo ocorrer nenhuma segregação racial, como alguns países realizaram, como por exemplo, proibindo pessoas de adentrarem seus países.
Outro ponto que merece análise é que na posição 11 do ensaio, Yuval explica que epidemias matavam milhões de pessoas muito antes da globalização, muito antes de existirem aviões e cruzeiros. Um exemplo disso foi o que aconteceu no México em 1520, um único hospedeiro de varíola espalhou a doença em uma região e a mesma se espalhou na América Central matando quase um terço de sua população. Essa informação não é para espalhar medo, mas sim para demonstrar que as epidemias sempre existiram e infelizmente vão continuar existindo.
[…] Apesar de episódios terríveis, como o da aids e o da ebola, no século XXI as epidemias matam uma proporção muito menor de pessoas do que em qualquer outra época desde a Idade da Pedra. Isso porque a melhor defesa que os humanos têm contra os patógenos não é o isolamento, mas a informação. A humanidade tem vencido a guerra contra as epidemias porque, na corrida armamentista entre patógenos e médicos, os patógenos dependem de mutações cegas, ao passo que os médicos se apoiam na análise científica da informação. (Yuval Noah Harari, 2020).
Apesar do autor defender que o isolamento não é a melhor defesa, mas sim a informação e a ciência, temos que entender que infelizmente em pleno século XXI, existem muitos movimentos antivacinas, que crescem graças a Fake News, dificultando tanto o enfrentamento a outras doenças, como Sarampo, Dengue, entre outras, bem como o enfrentamento ao Covid-19, portanto, infelizmente, o isolamento social é a melhor saída atualmente para frear a disseminação da Covid, enquanto a ciência não encontra um medicamento.
Até aqui, podemos concluir que a falta de líderes dificulta o enfrentamento, pois, existem muitas pessoas que querem liderar, mas nenhuma faz de modo efetivo, fazendo com que a humanidade seja a principal prejudicada.
Algo importante pode ser encontrado na posição 63 do ensaio. Enquanto na posição 33 o autor defende que o isolamento não vence epidemias, na posição 63 ele menciona: “A quarentena e o toque de recolher são essenciais para interromper a propagação da epidemia”. Isso significa que o autor se contradisse? Não, pelo contrário, ele entendeu que não existem líderes.
Para que a análise científica da informação seja eficaz, elas precisam ser confiáveis, porém, quando cada médico/cientista diz uma coisa diferente, você não tem uma informação única, mas sim diversas, que em algumas vezes acabam se contradizendo, logo, se você não tem informações confiáveis, o que resta é o isolamento.
[…] Mas quando os países não confiam uns nos outros e cada nação sente que está por conta própria, os governos hesitam em adotar medidas tão drásticas. Se você descobrisse cem casos de coronavírus em seu país, você isolaria imediatamente cidades e regiões inteiras? Em boa medida, isso depende do que você espera dos outros países. Paralisar cidades pode levar ao colapso econômico. Se achar que os demais países virão em seu socorro, você sentirá mais disposto a adotar essa medida. Mas se achar que os outros o abandonarão, provavelmente hesitará até que seja tarde demais. A coisa mais importante que as pessoas precisam compreender sobre a natureza das epidemias talvez seja que sua propagação em qualquer país põe em risco toda a espécie humana. Isso porque os vírus evoluem […]. (Yuval Noah Harari, 2020).
Tudo é uma questão de confiança: as pessoas devem confiar nos seus líderes, os líderes devem confiar em seus semelhantes, estes devem confiar nos médicos, os médicos devem confiar na ciência, e a ciência deve confiar nela mesma, porém, quando falta confiança em qualquer lugar desse elo, as coisas tendem a não dar certo.
[…] Como um único indivíduo pode hospedar trilhões de partículas virais que se replicam o tempo todo, cada pessoa infectada oferta ao vírus trilhões de novas oportunidades para se adaptar melhor aos humanos. Cada hospedeiro humano é como uma máquina de apostas que dá ao vírus trilhões de bilhetes de loteria — e, para prosperar, o vírus só precisa de um único bilhete premiado. (Yuval Noah Harari, 2020).
Agora, por meio de um escritor e de um escritor e resenhista que lhe escreve, você sabe o motivo pelo qual se deve evitar sair de casa de modo desnecessário.
[…] Há centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo sem acesso aos serviços mais básicos de saúde. Isso representa um risco para todos nós. Estamos acostumados a pensar nesse tema em termos nacionais, no entanto oferecer assistência médica a iranianos e chineses também ajuda a proteger israelenses e americanos contra epidemias. Essas simples verdades deveriam ser óbvia para todos, mas infelizmente ela escapa até mesmo a algumas das pessoas mais influentes do mundo. (Yuval Noah Harari, 2020).
Conversando com alguns amigos, mais precisamente uma amiga advogada na cidade de Três Rios/RJ, ela demonstrou a preocupação da falta de saneamento básico no Brasil, principalmente nas comunidades do Rio de Janeiro, pois, muitas famílias no país não possuem nem acesso a água potável, como vão ter cuidados de higiene para se protegerem contra o Covid-19 e outras doenças que podem ser prevenidas pela higiene?
Outro amigo que conversei foi com um grande amigo com quem tive o prazer de dividir os bancos escolares e era meu companheiro de reflexões. Ele fez uma observação da quantidade de hospitais que estão sendo inaugurados ou que estão tendo sua construção acelerada para atender os pacientes da atual pandemia. Se eles estão sendo inaugurados e tendo a construção aceleradas, por qual motivo não pode ser assim sempre? Novamente chegamos no ponto: os “líderes” atuais pensam apenas em seu entorno e não no todo.
Neste momento de crise, a batalha decisiva trava-se dentro da própria humanidade. Se essa epidemia resultar em maior desunião e maior desconfiança entre os seres humanos, o vírus terá aí sua grande vitória. Quando os humanos batem boca, os vírus se multiplicam. por outro lado, se a epidemia resultar numa cooperação global mais estreita, triunfaremos não apenas contra o coronavírus, mas contra todos os patógenos futuros. (Yuval Noah Harari, 2020).
Liderar é pensar em todos. O momento atual pede lideranças que deixem de lado suas diferenças, suas filosofias diversas e pensem apenas em uma coisa: vencer a pandemia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Yuval Harari é um dos grandes escritores da atualidade, e sua formação em História possibilita com que tenha uma visão diferente do mundo em nossa volta. Nesse ensaio, o autor deixa claro que o mundo precisa urgentemente de líderes, porém, antes disso, é necessário que as pessoas confiem uma nas outras e que a ciência também passe a acreditar em si mesma, sem controvérsias.
Novas epidemias virão e devemos estar preparados. Apesar do Covid-19 se mostrar uma das maiores emergências sanitárias da história recente da humanidade, temos a chance de mostrar que a humanidade não encontra-se perdida e que as pessoas podem acreditar uma nas outras nos momentos de dificuldades.
Um ponto negativo da leitura, foi a visão de que o isolamento social e a quarentena são coisas ruins ao extremo. Acho que essas são atitudes necessárias, principalmente enquanto a ciência não disponibiliza um remédio para o vírus e consequentemente para o isolamento. Porém, isso em nenhum momento tira a magia da leitura e a possibilidade de inúmeras reflexões proporcionadas por Yuval Hari.

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